
Audio: Vinho, café e chocolate. Prazeres adjacentes.
A minha convidada de hoje tem desenhos no corpo como declarações de sentimentos que decalcam na alma as suas memórias, sensibilidades, gestos, vidas, pessoas. Tem desenhos cromáticos de bem-estar e ânimo, de pessoa boa e linda.
Nasceu destinada a ser mãe, a cuidar dos seus e dos outros e dos outros dos outros e por aí adiante. Naturalmente espiritual avisa as amigas sempre que se aproxima um estado de mercúrio retrogrado, não vão as conversas ser mal interpretadas.
Lê quase todos os dias e com frequência entra num estado de imersão do qual não sai senão no final da leitura, estado que já chegou a durar 24 horas, imagine-se! Nestas circunstâncias precisa depois de tempo para passar para uma outra margem onde o encontro se dará com outra obra literária.
Esta senhora absorve histórias e sonha com uma livraria onde se permita acolher as letras e as imagens, conversar e partilhar, abrir as portas a hospedes de passagem que em silencio possam vaguear o olhar, flutuando entre estantes repletas de livros.
Com crianças à sua volta estaria no sétimo céu.
Os livros e as viagens acompanham-na desde sempre e não me surpreende quando refere que a viagem que quer fazer à Islândia tenha sido despertada por um livro que leu, recomendado por um amigo, numa conversa casual; afinal é também assim que se descobrem novas leituras. O livro, esse, é um thriller, o que me faz reflectir, na medida em que tenho diante de mim alguém que se mostra em opostos aparentes, que na realidade não o são.
Sinto agora que tenho comigo duas companheiras de conversa, sorte a minha, cujo fio condutor passa pela paixão pelos livros.
Vejo a mulher maternal e a mulher adepta do assustador e fantasmagórico. Uma espécie de Dr. Jackyll e Mr Hyde, versão feminina onde ambas as personagens se apresentam admiráveis.
Quando lhe pergunto sobre um hobbie, de imediato refere “ler” e após uma breve pausa junta-se-lhe a “música”. Que grandiosa combinação onde a melodia embala as palavras, mesmo as que assustam e vagueiam por castelos assombrados, com vampiros e fantasmas.
Onde mais gosta de estar com um livro? Em qualquer lugar. Vá para onde for os livros fazem parte da bagagem.
Primavera, Verão, Outono ou Inverno? Indiferente, desde que os dias se achem quentes. O frio contrai os movimentos leves e com temperaturas baixas necessita de se acolher chegada à lareira, abraçada a um livro, claro!
Inibe-se na leitura em voz alta se for de si para si, mas faz-se ouvir a outros, principalmente às crianças onde as vozes soltam as personagens de enredos simples e cativantes.
Uma alma livre, solta, senhora de si, vê a encadernação como coisa do presente, que serve para vestir e envolver a alma de um livro. Que bom!
É saudosa dos tempos idos em que escrevia cartas e saía rua fora na procura de um marco de correio, daqueles encarnados que para mim se assemelham a faróis, avisando que por ali se iluminam escritos entre pessoas.
Para a senhora de hoje o que vai bem com livros acha-se num menu de prazeres paralelos onde coexistem o vinho, o café e o chocolate. Um encontro múltiplo onde se mesclam palavras voadoras.
Nunca tendo pensado num livro para encadernar, demora-se a selecionar. Opta por escolher aquele que funcionou como ignição para a sua próxima viagem – “Lembro-me de ti”.
Eis que nos entretantos acrescenta… ou os livros da colecção de “Os cinco”, onde por entre as linhas das andanças do Júlio, da Ana, do David, da Zé e do Tim (o cão), se lhe acercam as aventuras da sua própria infância. Talvez encaderne todos eles e junte a criança e a crescida que tem em si. Conjecturo aqui um trabalho muitíssimo criativo, para mim.
Entre a leitura das suas respostas, imagino-a a saltar em modo de dança para a sua vassoura mágica e a espalhar júbilo por aí, entre nuvens de algodão doce, porquanto bruxinhas boas também as há.
Faz de profissão ser empresária, mas depois desta conversa diria que o seu métier passa pela biografia espontânea de uma doce sonhadora. Também seria um bom tema de livro a encadernar! Quem sabe!
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