
Audio: Silêncio com chá.
Num labirinto onde os caminhos cruzam danças de escritas, pintura, música e desporto, o meu convidado de hoje encontra a saída num trilho constante que acalma diariamente através da leitura que antecede o nascer do sol.
Sustenta-se sendo empresário. Vago nesta resposta revela-se multifacetado e com a sensibilidade dos que ousam declamar em vez de ler em voz alta, não fizesse parte de um núcleo familiar onde a dramatização das palavras é pertinaz.
Permite-se a um movimento involuntário de imersão com os livros, quando se deixa envolver pelo espaço circundante habitualmente vazio de outros que não os elementos naturais, sejam mar ou terra.
O outono é a sua estação, mas não menospreza as restantes, aliás, enaltece-as e em todas encontra razão que sustente a altura ideal para se estar com um livro.
Vê a encadernação como intemporal, eternizando o meu ofício com estas palavras, o que me dá conforto e esperança.
Eterno curioso, questiona a vida, tem porquês sem respostas e amacia com o olhar as palavras que os romances que lê presenteiam. Ecleticamente interessado, lê de tudo um pouco e em conteúdos diversos vai desembrulhando, diligente, presentes que saciam as suas vontades.
Habita em si a vontade de perpetuar o que há de belo no que antigamente se via como banal, talvez por isso insista em continuar a colocar cartas no correio, regalando os mais novos com escritos escondidos em envelopes selados.
No seu ambiente silencia-se o tempo para dar aos livros espaço para falar, entre chávenas de chá, ritual que o ampara enquanto lê.
São várias as obras que este senhor gostaria de ver encadernadas, todas elas já entre a família, todos elas com histórias escritas e histórias guardadas nas memórias dos seus donos, lembranças que se querem protegidas e eternizadas.