Um café. Um copo de vinho tinto.

Audio: Um café. Um copo de vinho tinto.

Os acontecimentos ao longo de uma infância moldam uma pessoa. Quem seríamos, se ao invés de termos crescido no ambiente que crescemos tivéssemos passado os primeiros anos de vida com outras gentes, noutros lugares e fazendo parte de outras vivências? Não seriamos nós, seriamos outros quaisquer.

O privilégio de partilhar uma infância e adolescência com belos e bons livros, observando a vida do seu pai, encadernador e dourador, semeou o que mais tarde se fez florescer.

O meu companheiro de conversa de hoje descobriu Pessoa cedo, crescendo, inevitavelmente, influenciado por todos os seus seres.

Embora curioso pelas culturas, gentes, história, geografias e tradições, a razão obrigou-o a fazer carreira ligada à economia e à gestão. Possuidor de um sentido humorístico que nem todos entendem, encara os temas sérios com gracejos, como defesa pessoal e quando pergunto o porquê desta escolha ri-se e diz que ou era isso ou História e com o curso de História não iria conseguir sustentar ninguém. 

Ditou o destino que depois de se reformar investisse, por fim, no que faz parte de si: leitura, investigação histórica e trabalho com livros. Claro está que nem merece que se lhe pergunte se a encadernação é coisa do passado ou do presente, porque neste caso é coisa de toda a vida.

O que vai melhor com livros? O silêncio (incluindo o seu), um bom vinho tinto e café, seja por que ordem for. E tempo, interminável e sem interrupções para que o fio condutor das palavras que agarra não se lhe seja quebrado.

Nesta conversa, afirma-se ao dizer que as palavras servem para se ler e para se escrever, ocorre enviar pelo correio quaisquer linhas que destapam o que se lhe vai na alma, emaranhadas com o que retém das leituras históricas, etnográficas e, veja-se lá, thrillers… há ou não humor por aqui?

Sendo adepto do silencio, faz da leitura um instante de voz interior, renunciando a palavreados em alta voz.

Para este senhor o calor não é amigo de leituras, nem de trabalho; amolece o corpo e a mente deixa-se desfazer em preguiça. Durante meses anseia que o Verão desapareça e que o Outono se aviste e traga consigo o Inverno frio e chuvoso, esse sim, bom aliado para os seus afazeres. Se o acaso o brindar com uma trovoada, então está no paraíso!

Dá-se conta que, fortuitamente, se entretém a brincar a existir e guarda diários espalhados por lugares que já nem recorda, convicto está que serão recuperados quando por cá já não andar. Um dos livros a encadernar não é difícil de adivinhar, pois é um dos mais inesgotáveis de sempre, um livro impossível – O Livro do Desassossego.

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