Um lápis

Audio: Um lápis.

Imersão absoluta em letras, frases, palavras, pontuação, sintaxes, semânticas, … Imersão absoluta em livros. É assim a vida da minha companheira de conversa de hoje que, tendo ocasião, faz uma pausa na revisão de textos e elege a dedo os seus enamoramentos literários, habitando-os intensamente, tal é parco o tempo que tem para se lhes dedicar.

As mãos servem-na e servem-lhe para acomodar os livros, guardando-os e acercando-os aos restantes sentidos, mais mãos tivesse, mais livros teria acolhidos por si. Nos entretantos das letras passa por si a música, de que faz hobbie com voz ao canto e dedilhar de ukulele.

Tudo combina na vida desta senhora, para quem as estações não existem para os livros, porquanto no que toca aos mesmos o “hoje” é a melhor altura do ano para se ler. Nesta época atípica, em que dificilmente se conseguem discernir as quatro estações; o outono e inverno misturam-se entre folhas caídas e chuvas e o verão ainda teima em marcar presença por entre nuvens cinzentas, insistentes em marcar território. As flores animam-se nesta confusão climática e deslumbram entre o calor e o frio, num cocktail energético que alimenta o processo de fotossíntese. Lê-se assim, ininterruptamente, durante o ano inteiro!

A voz alta faz ressoar o eco do autor, ouvindo-se a si mesma num semblante melódico com a voz de quem escreve. De novo a música faz aqui pandã, as artes misturam-se e os diálogos fabricam-se de formas diversas, entre si entendíveis.

Assume-se como leitora absolutamente queer, onde todos os géneros têm espaço e encontram cuidado aprimorado nas suas estantes e nas suas mãos.

À pergunta sobre se a encadernação é coisa do passado, do presente ou do futuro, responde-me num tom protector que a encadernação é a longevidade dos livros, o que me enternece e deleita. Nesta conversa escrita chamo a mim mesma que o seu métier passa por sublinhados e notas que se misturam nas narrativas que revê e lê com olhos de prazer. O que vai bem com livros? Um lápis!

Sendo das poucas pessoas que ainda escreve e recebe cartas, daquelas que levam selos, responde-me que um livro que gostaria de ver encadernado seriam os manuscritos originais das cartas trocados entre Anaïs Nin e Henry Miller. Com esta resposta surgem-me ideias e inspirações que espero concretizar.

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