O lápis. A porta fechada.

Audio: O lápis. A porta fechada. 

Bate-me à porta a minha companheira de conversa de hoje e entre um cumprimento à distância, chávena de chá na mão, ela e eu, incorremos numa conversa por onde os caminhos do imaginário calcam ideias em metáforas subliminares, dando-nos tempo de existência e tempo para nos ouvirmos.

Li em tempos, num dos livros que tenho em casa, onde Al Berto depositou a excelência das suas palavras, um não diálogo que ditava:

“- todos os pássaros sossegaram. as crianças desceram das árvores e guardaram os jogos nas algibeiras. recolheram a casa vagarosamente.

– é noite.”

No elencar de perguntas respostas feitas de par em par a esta menina mulher, recolhemos cada uma ao nosso tecto imaginário, com o conforto que cada um pede. Ao invés de guardarmos jogos percorremos a noite com palavreado em comutação, num ambiente recreativo que entreteve por copiosas horas. Velas tivéssemos e teriam ardido até ao fim.

Agarra os estudos artísticos, esta senhora, com garras e dentes macios, mas firmes, tanto que se lhe misturam os momentos de lazer e de obrigação.

Reside num dia-a-dia com minucias de estudo e muita leitura, daquela que considera boa e é indecisa quando uma voz lhe pede para lhe fazer ouvir a sua, querendo muito escutar as palavras que lê. Ora se soltam ora não.

Quando for grande gostaria de conseguir responder à questão que tantos de nós temos ainda sem resposta “O que és, agora que és grande?”.

À pergunta onde mais gosta de estar com um livro responde com ambientes e posses: sem frio, sem calor, sem fome e com chá, que por aqui há, bastante.

De Novembro a Fevereiro dá-se-lhe de ficar inside numa quinta estação que criou, à qual dá o nome de Intouno. Nestes meses vive de si para si, aconchegando os saberes que acolhe e criando os seus, em discurso confiante típico de grande mulher.

À porta fechada, assumindo um esconderijo de preciosidades, o que lhe vai bem com livros é um lápis, que utiliza para sublinhar e anotar, permitindo-se a fazer da sua história um marco na história de outros.

Para ela a encadernação é “coisa que insiste no presente”. Ainda bem que assim é, há coisas pelas quais vale a pena insistir. O livro que escolheria para encadernar é um que se veria valorizado, digno da sua verdadeira importância: um manual escolar. Verdade!

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